Multinacional BP abandona energia renovável e a partir de agora aposta no petróleo e gás para reconquistar investidores.
A multinacional britânica BP anunciou uma mudança radical em sua estratégia energética ao decidir abandonar seus ambiciosos planos de expansão em energias renováveis e retomar o foco em seu núcleo histórico: a produção de petróleo e gás. A decisão foi revelada em fevereiro de 2025 pelo CEO Murray Auchincloss e visa aumentar os lucros, reduzir a dívida e atender às exigências de seus acionistas. A nova abordagem prevê elevar a produção para até 2,5 milhões de barris por dia até 2030, revertendo promessas anteriores de redução e descarbonização.
Investidores pressionam e BP faz “reinicialização fundamental” da estratégia energética
A guinada da BP veio após uma série de pressões de investidores, preocupados com o desempenho financeiro da empresa em comparação com concorrentes do setor. As ações da companhia vinham sofrendo queda, especialmente após a priorização de projetos de energia limpa que não trouxeram retorno imediato.
Em resposta, Auchincloss anunciou uma “reinicialização fundamental”, abandonando a meta anterior de multiplicar em 20 vezes sua capacidade de geração renovável até 2030 — que era de 8,2 GW em 2019. A nova estratégia prevê desinvestimentos em projetos de baixo carbono, com a venda de ativos e cortes em iniciativas sustentáveis para financiar o crescimento no setor de petróleo e gás.
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“Nosso otimismo em 2020 por uma rápida transição energética foi equivocado. Fomos longe demais, rápido demais”, admitiu Murray Auchincloss.
Mudança na presidência sinaliza nova fase focada em combustíveis fósseis
Em julho, poucos meses após o anúncio da nova estratégia, a BP oficializou a nomeação de Albert Manifold como novo presidente da companhia. Ele substitui Helge Lund, defensor da transição verde, que anunciou sua saída em abril. Manifold, que teve carreira destacada na CRH, assume o desafio de liderar a empresa em sua retomada aos combustíveis fósseis.
“É uma honra ser nomeado presidente de uma das maiores empresas de energia do mundo”, afirmou Manifold, que chega com a missão de “ajudar a empresa a atingir seu potencial máximo”.
A BP também reestruturou seu conselho com a entrada de nomes experientes no setor de petróleo e gás, como Simon Henry, ex-executivo da Shell, e Dave Hager, veterano da indústria.
Venda de parques eólicos reforça o abandono das metas verdes
Em um movimento simbólico do novo posicionamento estratégico, a BP anunciou em julho a venda de seu portfólio de energia eólica onshore nos Estados Unidos para a LS Power, empresa baseada em Nova York. O acordo envolve 10 parques eólicos — nove deles operados pela própria BP — capazes de abastecer mais de 500 mil residências.
Embora os valores do negócio não tenham sido revelados, estima-se que os ativos estejam avaliados em cerca de US$ 2 bilhões. A venda faz parte do plano da empresa de se desfazer de US$ 20 bilhões em ativos até 2025, com a expectativa de realizar de US$ 3 bilhões a US$ 4 bilhões em desinvestimentos já no próximo ano.
“Concluímos que não somos mais os melhores proprietários para levar adiante esses ativos”, afirmou William Lin, chefe da divisão de gás e energia de baixo carbono da BP.
Foco renovado em petróleo e gás impulsiona meta de US$ 10 bilhões ao ano em investimentos
A BP agora pretende investir US$ 10 bilhões por ano em petróleo e gás até o fim da década. A meta de produção foi revisada para um patamar entre 2,3 milhões e 2,5 milhões de barris de óleo equivalente por dia, revertendo completamente o plano anterior de reduzir a produção em 25% em relação a 2019.
Essa decisão acompanha uma tendência global de recuperação das grandes petroleiras, alavancada pela alta dos preços do petróleo e gás desde o fim da pandemia. Empresas que mantiveram foco nos combustíveis fósseis, diferentemente da BP, conseguiram retornos mais robustos, o que intensificou o desconforto dos acionistas com os rumos da companhia nos últimos anos.
“Nossa nova direção está repercutindo entre os acionistas. A maioria das perguntas que me fazem é sobre a rapidez com que podemos entregar resultados”, escreveu Auchincloss em artigo publicado no The Times.
Uma BP “mais simples e focada” promete retorno financeiro em vez de sustentabilidade
A nova fase da BP deixa claro que o lucro voltou a ser prioridade, mesmo em detrimento das metas climáticas. A empresa tenta convencer o mercado de que será possível manter um papel relevante no setor energético global investindo principalmente em petróleo e gás, ainda que a demanda por soluções limpas continue crescendo.
Apesar da venda dos ativos eólicos, a BP afirma que continuará com investimentos pontuais em energia de baixo carbono. Contudo, esses projetos passarão por avaliações rigorosas para garantir retorno financeiro imediato — algo distante da lógica anterior de transição energética e inovação sustentável.
Fonte: AEPET