Explicamos o conceito, as tecnologias envolvidas (rastreamento ocular, mapeamento de ambiente) e o impacto da próxima grande revolução da computação.
Por décadas, nossa interação com o mundo digital foi mediada por retângulos luminosos. Primeiro, o monitor do computador de mesa. Depois, a tela do notebook e da TV. E, finalmente, a tela do smartphone, que se tornou o centro de nossas vidas. Agora, as maiores empresas de tecnologia do mundo, como Apple, Meta e Samsung, estão apostando bilhões de dólares na ideia de que esta era está chegando ao fim.
Com o lançamento de dispositivos como o Apple Vision Pro, um termo começou a dominar a indústria: Computação Espacial. Mas afinal, o que é computação espacial? Não se trata apenas de mais um óculos de realidade virtual para jogos. Trata-se de uma proposta radical: dissolver as telas e fazer com que a informação digital habite o mesmo espaço físico que nós.
A diferença crucial: VR, AR e a Computação Espacial
Para entender a revolução, precisamos definir os termos.
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Realidade Virtual (VR): cria um ambiente totalmente digital que substitui o mundo real. Você é transportado para outro lugar. É imersiva, mas isola o usuário.
Realidade Aumentada (AR): projeta informações digitais sobrepostas ao mundo real, como um filtro de Instagram ou as informações no para-brisa de um carro. Você ainda vê o mundo real, com uma camada digital por cima.
Computação Espacial (Realidade Mista – MR): este é o grande salto. Ela não apenas sobrepõe, mas integra os objetos digitais ao seu ambiente físico. Uma planilha pode ser “fixada” na sua parede, um filme pode flutuar na sua sala de estar, e esses objetos virtuais interagem com o mundo real – eles podem, por exemplo, fazer sombra na sua mesa ou se esconder atrás do seu sofá.
A engenharia por trás da mágica: como a tecnologia funciona?
Para que essa fusão entre o real e o virtual aconteça de forma convincente, uma série de tecnologias de ponta precisa trabalhar em perfeita harmonia.
Mapeamento de Ambiente 3D: usando câmeras e sensores LiDAR (que disparam feixes de laser para medir distâncias), o dispositivo escaneia seu quarto e cria um mapa tridimensional detalhado em tempo real. É assim que ele sabe onde estão as paredes, os móveis e os objetos.
Rastreamento Ocular (Eye Tracking): câmeras infravermelhas de altíssima velocidade monitoram para onde seus olhos estão olhando. Em vez de um mouse, seu olhar se torna o cursor. Para “clicar” em um ícone, basta olhar para ele e fazer um gesto com os dedos.
Rastreamento de Mãos (Hand Tracking): câmeras externas monitoram constantemente a posição das suas mãos. Não são necessários controles ou joysticks. Seus gestos naturais de “pinça”, “arrastar” e “clicar” são os comandos.
Vídeo Passthrough de Baixa Latência: para que você não se sinta isolado, câmeras externas capturam o mundo real e o retransmitem para telas de altíssima resolução dentro dos óculos. A “mágica” é que isso acontece com uma latência (atraso) tão ridiculamente baixa (milissegundos) que seu cérebro percebe como se você estivesse olhando através de um vidro transparente.
O futuro do trabalho: vamos mesmo trabalhar sem monitores?
A promessa é exatamente essa. Com a computação espacial, seu ambiente de trabalho não é mais definido pelo tamanho da sua tela, mas pelo espaço físico ao seu redor. Você pode ter múltiplas telas virtuais gigantes flutuando no ar, uma com seu e-mail, outra com uma videochamada, e uma terceira com um modelo 3D de um projeto de engenharia. Para indústrias como arquitetura, design de produto e medicina, o potencial de visualizar e manipular objetos digitais em escala real é revolucionário.
Os desafios: o enjoo e o custo da revolução
Dois grandes obstáculos precisam ser superados. O primeiro é o enjoo de movimento (motion sickness). Ele acontece quando seus olhos veem um movimento que seu corpo não sente. As tecnologias de baixa latência e alta taxa de atualização de tela do Apple Vision Pro são projetadas especificamente para minimizar esse problema, mas a adaptação ainda é individual.
O segundo é o custo. Com um preço de lançamento de US$ 3.499 nos EUA, a computação espacial começa como uma tecnologia de nicho para profissionais e entusiastas. No entanto, assim como os primeiros computadores e celulares, a expectativa é que, ao longo da década, a tecnologia se torne mais barata e acessível, definindo o que será o substituto do smartphone para a próxima geração.
Você está animado para trabalhar e se divertir com telas virtuais flutuando na sua sala, ou acha essa ideia assustadora e distópica? Comente!
Eu acho que há mais um desafio a superar. Com a tecnologia atual, quando a imagem é projetada em uma tela de TV a imagem é compartilhada por todos os ocupantes do local ao passo que quando se usa um celular, ela é privativa do usuário, sendo compartilhada apenas quando esse permitir. Como a tecnologia de imagem espacial conciliaria essas duas realidades ou seja, permitiria que uma midia espacial possa ser privativa de um usuário ou que cada usuário tenha acesso ao seu conteúdo particular?