Odebrecht: de império global da construção ao símbolo de corrupção e decadência empresarial no Brasil. Maior empreiteira brasileira vive hoje como sombra do passado após escândalos, recuperação judicial e perda de poder
A Odebrecht foi, durante décadas, sinônimo de engenharia de alto nível, grandes obras e presença global. No auge, o grupo faturava mais de R$ 100 bilhões por ano, operava em 26 países e estava à frente de projetos estratégicos como hidrelétricas, metrôs, estádios de Copa do Mundo e usinas nucleares. Mas em dezembro de 2016, a empresa tornou-se protagonista do maior acordo de leniência da história mundial, admitindo ter pago mais de US$ 1 bilhão em propinas em 12 países. Desde então, a marca “Odebrecht” se tornou associada a um dos maiores esquemas de corrupção já revelados.
A história da companhia vai do heroísmo de seu fundador, Norberto Odebrecht, nos anos 1940, ao colapso sob a gestão de seu neto, Marcelo Odebrecht, preso pela Operação Lava Jato em 2015. Mesmo após recuperação judicial e mudança de nome para Novonor, a Odebrecht ainda luta contra dívidas, perda de contratos e o peso de seu passado.
Da construtora baiana ao império global
Fundada na Bahia em 1944, a Odebrecht cresceu aproveitando oportunidades em obras públicas e cultivando relações políticas estratégicas. Nas décadas seguintes, conquistou projetos de grande porte como Angra 1, o Aeroporto do Galeão e obras da Petrobras. A internacionalização veio a partir dos anos 1980, com presença marcante na América Latina e na África, especialmente em Angola, onde adotou o modelo de “obras pagas com petróleo”.
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Na virada para os anos 2000, sob comando de Emílio Odebrecht, a empresa consolidou a Braskem, maior petroquímica da América Latina, e expandiu sua atuação como braço da política externa brasileira, contando com financiamentos bilionários do BNDES. Essa rede de influência permitiu contratos em Cuba, Venezuela, Peru e outros países, sempre associando negócios à diplomacia.
O “Departamento de Operações Estruturadas”
Foi nesse período que o esquema de corrupção atingiu seu nível mais sofisticado. A criação do chamado Departamento de Operações Estruturadas institucionalizou o pagamento de propinas no Brasil e no exterior. Com sistemas criptografados próprios e offshores em paraísos fiscais, o setor funcionava como um “banco paralelo” para transações ilícitas, garantindo acesso privilegiado a licitações e aditivos contratuais milionários.
Segundo o acordo de 2016, a Odebrecht e a Braskem pagaram propinas para autoridades, presidentes e ministros de 12 países, influenciando desde obras de infraestrutura até campanhas eleitorais.
Lava Jato e queda abrupta
A prisão de Marcelo Odebrecht, em junho de 2015, simbolizou a virada de um ciclo. Sem contratos da Petrobras e com obras paralisadas, a empresa perdeu sua principal fonte de receitas. Países como Peru, Panamá e República Dominicana suspenderam ou cancelaram projetos, enquanto investigações internacionais bloquearam ativos e afastaram a Odebrecht de licitações.
Em 21 de dezembro de 2016, a companhia fechou o acordo de leniência de US$ 3,5 bilhões em multas com Brasil, EUA e Suíça. Foi o maior valor já registrado globalmente nesse tipo de negociação.
Recuperação judicial e sobrevivência
Com dívidas que chegaram a R$ 120 bilhões, a Odebrecht pediu recuperação judicial em 2019, o maior processo do tipo na história do Brasil. O ativo mais valioso, a participação na Braskem, foi usado como garantia para credores e se tornou alvo de disputa com a Petrobras.
Em 2021, um plano de reestruturação permitiu que a empresa mantivesse parte do controle da Braskem, mas com restrições severas: 80% dos dividendos vão para pagar dívidas. A marca “Odebrecht” foi oficialmente abandonada, substituída por Novonor.
O presente e o futuro
Em 2024, o STF anulou provas centrais usadas na Lava Jato, abrindo brechas para que a companhia questione o acordo de leniência e até recupere parte das multas pagas. Ainda assim, especialistas apontam que, mesmo se houver alívio financeiro, a Odebrecht dificilmente voltará ao patamar de influência e faturamento que tinha antes de 2015.
A trajetória da empresa é, para muitos, o reflexo das contradições brasileiras: capacidade técnica e ambição global, mas também dependência de relações políticas e tolerância com práticas ilícitas. Hoje, a Novonor sobrevive como uma sombra do que foi, sustentada principalmente pela Braskem, e marcada pela lembrança de ter se tornado o símbolo máximo da mistura entre poder público e privado no Brasil.
Você acha que a Odebrecht — agora Novonor — merece uma segunda chance para voltar ao mercado com força, ou sua história a condena a viver para sempre sob a sombra da Lava Jato? Deixe sua opinião nos comentários.