Brasil pode ganhar protagonismo na mineração de cobalto com descoberta no Ceará. Pesquisadores da UFC revelam depósitos de “ouro azul” em Ocara, metal essencial para baterias de carros elétricos.
Uma nova pesquisa conduzida por geólogos da Universidade Federal do Ceará (UFC) revelou algo que pode transformar o futuro da mineração brasileira: depósitos expressivos de cobalto em solo cearense, metal também conhecido como ouro azul pela sua importância crescente na indústria de alta tecnologia.
A descoberta se deu em meio à análise de cinco grandes depósitos de manganês no Brasil, sendo que todos apresentaram a presença de cobalto como subproduto — com destaque para um ponto específico no município de Ocara, a cerca de 160 km de Fortaleza.
Cobalto no Ceará: um novo capítulo para a mineração nacional
O principal local estudado, o depósito de Lagoa do Riacho, está situado em Ocara, uma cidade com cerca de 25 mil habitantes, onde já existe uma mina ativa de manganês. A presença de cobalto em níveis consideráveis na região pode posicionar o Ceará como referência nacional e até internacional na produção desse minério estratégico.
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Segundo Evilarde Uchôa, doutorando em Geologia pela UFC e geólogo do Serviço Geológico do Brasil, ainda não é possível estimar com precisão o volume total das reservas, mas os primeiros dados confirmam a importância da descoberta como ponto de partida para estudos futuros e investimentos.
Além de Ocara, outras cidades cearenses também já registraram indícios da presença de cobalto, como Chorozinho, Horizonte, Pacajus, Acarape, Aracoiaba, Pacoti, Pentecoste e Caucaia — demonstrando que o “ouro azul no Brasil” pode ter um de seus maiores núcleos no estado nordestino.
Ouro azul no Brasil: o que torna o cobalto tão valioso?
O cobalto é considerado um dos minérios mais estratégicos do século XXI, sendo essencial para a produção de baterias recarregáveis, utilizadas em carros elétricos, bicicletas elétricas, notebooks e celulares, além de:
- Superligas metálicas resistentes a altas temperaturas, empregadas em turbinas de aviões e usinas térmicas;
- Ligas magnéticas utilizadas em motores elétricos de alto desempenho;
- Catalisadores químicos importantes para a produção de combustíveis e produtos industriais.
Essa versatilidade, somada à escassez de locais com exploração viável, transformou o cobalto em um ativo geopolítico — com destaque para sua função no processo de descarbonização global.
Polo automotivo e localização estratégica favorecem o Ceará
O momento da descoberta é especialmente oportuno. O Ceará se prepara para receber um Polo Automotivo na cidade de Horizonte, que deverá fabricar veículos eletrificados. A proximidade das reservas minerais com esse novo polo industrial cria uma cadeia de suprimento local estratégica, que pode:
- Reduzir custos logísticos;
- Aumentar a competitividade de veículos nacionais;
- Atrair novas empresas da cadeia de baterias.
Segundo o professor Felipe Holanda dos Santos, do Departamento de Geologia da UFC, a posição geográfica do estado e sua infraestrutura em crescimento tornam o cobalto no Ceará um ativo altamente promissor para o setor de energia limpa.
Reserva de cobalto no Brasil: realidade ou potencial?
De acordo com dados do Ministério de Minas e Energia, o Brasil possui cerca de 70 mil toneladas estimadas de reservas de cobalto — uma quantidade considerável, mas ainda pouco explorada industrialmente. A grande maioria da produção mundial vem da República Democrática do Congo, o que levanta preocupações sobre direitos humanos, instabilidade política e monopólio de mercado.
Nesse contexto, encontrar depósitos de cobalto em território nacional, especialmente em associação com minas já ativas de manganês, como é o caso do Ceará, representa uma enorme vantagem competitiva e ambiental.
Extração responsável e parcerias científicas
Apesar do entusiasmo, os pesquisadores da UFC ressaltam que a exploração do cobalto precisa ser feita com responsabilidade. Evilarde Uchôa destaca que qualquer operação de mineração exige:
- Gestão rigorosa de rejeitos;
- Controle de emissões;
- Planos de recuperação ambiental;
- Participação ativa da comunidade local;
- Monitoramento de impactos sociais e ecológicos.
Uma das alternativas mais promissoras apontadas é justamente o aproveitamento do cobalto como subproduto da extração de manganês, evitando a abertura de novas minas e minimizando os impactos ambientais adicionais.
IFRN pode liderar tecnologia de beneficiamento
Como parte dos desdobramentos do estudo, foram iniciadas tratativas com o Centro de Referência em Tecnologia Mineral do IFRN (Instituto Federal do Rio Grande do Norte) para desenvolver, em parceria, uma rota tecnológica capaz de recuperar o cobalto associado ao manganês.
Essa rota visa beneficiar o minério de forma eficiente e ambientalmente segura, utilizando métodos de separação e purificação que reduzam o consumo de energia e a geração de resíduos.
Próximo passo: criar um modelo de formação do minério
Além do mapeamento geológico, os pesquisadores estão desenvolvendo um modelo geológico para explicar a formação do minério de cobalto na região. Esse modelo pode orientar futuras explorações em novas áreas do Ceará e em outras regiões brasileiras.
Se confirmado, esse modelo poderá se tornar referência nacional para prospecção e exploração de cobalto, o que ampliaria o conhecimento técnico sobre o recurso e facilitaria a atração de investimentos públicos e privados.